Enquanto Nelson Mandela luta por sua vida, hospitalizado em Pretória, membros de sua família estão no meio de uma disputa, acompanhada de perto pela imprensa da África do Sul.
Diversos parentes do ex-presidente sul-africano entraram com ação na Justiça contra seu neto mais velho, Mandla, na tentativa de exumar os corpos de três dos filhos de Mandela para que estes sejam re-enterrados no túmulo da família em Qunu, onde Mandela quer ser levado.
A batalha jurídica em torno das exumações sinaliza profundas divisões dentro da grande e complexa família de Mandela, envolvendo suas três mulheres, seus 17 netos e 12 bisnetos.
De acordo com alguns dos membros mais velhos de seu clã, enquanto sua família estiver em disputa, o espírito do ex-presidente não terá paz.
Profundo simbolismo
Dezesseis integrantes da família do ex-presidente e líderes locais receberam, na semana passada, uma autorização judicial temporária para exumar os restos mortais de Makgatho Mandela (pai de Mandla e morto por doenças relacionadas à Aids, em 2005) e seus irmãos Thembekile (morto em acidente de carro em 1969) e Makaziwe (primeira filha de Mandela, morta em 1948 aos 9 meses de idade) e movê-los para Qunu, onde fica a residência do clã.
Mas Mandla Mandela - que, segundo a imprensa local, moveu os restos mortais do pai e dos tios para Mvezo, em 2011 - vai recorrer da decisão.
Os três corpos foram aparentemente exumados sem consulta prévia ao restante da família.
Talvez a briga pareça sinistra e complicada para quem a olha de fora, mas o tema carrega forte simbolismo para os sul-africanos. Segundo as tradições locais, perturbar os mortos traz maus agouros.
Tanto que, para alguns idosos do clã, as recorrentes doenças que têm afetado Mandela seriam uma mensagem dos ancestrais - um sinal de que estes estariam descontentes com Mandla.
Eles acreditam que o espírito de Mandela está atormentado pelas brigas familiares.
Acredita-se que 16 parentes estejam participando da ação judicial - lista que incluiria a mulher de Mandela, Graça Machel, sua filha Makaziwe (nascida em 1954) e membros sêniores do clã.
Quem vai substituí-lo?
No pano de fundo dessa disputa existe o debate, ainda em curso, quanto a quem substituirá Mandela como chefe da família.
O ex-presidente nomeou como seu herdeiro o seu neto mais velho (na ausência de filhos homens), Mandla. Ele será o chefe Zwelivelile do clã Thembu, sucedendo seu pai. Mandla também é atualmente parlamentar pelo partido governista, o Congresso Nacional Africano (CNA).
Mas muitos parentes estão cada vez mais insatisfeitos com ele - incluindo Makaziwe, a mais velha dos filhos sobreviventes de Mandela.
Os planos de Mandla, de abrir um memorial em Mvezo, na propriedade onde os túmulos estão localizados atualmente, despertaram insatisfações entre muitos familiares.
E corre em paralelo outra disputa envolvendo o legado de Mandela: suas filhas Makaziwe e Zenani foram à Justiça para tentar expulsar três assessores dos empreendimentos de Mandela. As duas querem ter controle sobre os empreendimentos, que têm valor estimado em milhões de dólares.
Paz de espírito
Para alguns, a família precisa resolver esses assuntos pendentes para que Mandela possa ter paz de espírito.
Segundo a "isintu" - tradicional cultura sul-africana -, uma das razões pela qual uma pessoa luta contra a morte é porque ela tem "assuntos mal resolvidos" a tratar.
Muitos acreditam que o "assunto mal resolvido" de Mandela é a unificação de sua família, da mesma forma como ele uniu negros e brancos sul-africanos após o fim do apartheid, em 1994.
Na próxima segunda-feira, haverá uma nova reunião do clã para tentar resolver as questões, segundo a agência noticiosa Sapa.
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