Nessa sua tarefa de Inspetor da Instrução Pública, ele se hospedava sempre em casa do velho pescador João Gomes, homem humilde, casado e com vários filhos, residente em Freixeiras. Numa destas ocasiões, Juvenal ouviu a narração dos sofrimentos que assaltaram inopinadamente o pescador e sua mulher, devidos à perseguição cruel de um potentado que, por vingança, aprisionara para o recrutamento militar o seu genro querido, deixando ao desamparo e na maior dor a esposa e o filho recém-nascido. Indignado, Juvenal tomou a si, com o entusiasmo que sentia na defesa das causas justas, retirar Vicente do recrutamento. Jurou que o conseguiria, afirmou destemido ao velho pescador que livraria seu genro e retornou logo a Fortaleza para não perder tempo. Escreveu então a seu cunhado e amigo Dr. José Gonçalves da Justa, que ocupava importante cargo no Rio de Janeiro, pedindo-lhe a liberdade de Vicente como o maior favor que lhe poderia prestar. O poeta era queridíssimo de toda família e seu cunhado conseguiu satisfazer-lhe o pedido. Inspirado nessa verdadeira e altamente comovedora cena da vida real, escreveu ele o conto intitulado “AMOR DO CÉU” enfeixado no seu livro“CENAS POPULARES “ editado em 1891.
Sobre “Cenas Populares” disse José de Alencar: “ livro tão original ainda não se escreveu entre nós”. Ao invés do verso, o autor preferiu a prosa em que descreve lugares, pessoas, costumes típicos de sumo interesse para o folclore em alguns contos singelos: “Os pescadores”, “Dia de feira”, “Folhas secas”, “Noite de núpcias”, etc. Esse livro foi o primeiro livro de conto publicado no Ceará.
Juvenal Galeno montou uma tipografia expressamente para impressão de “LIRA CEARENSE”, livro impresso em fascículos e distribuídos aos domingos em formato de jornal, com o mesmo título, Lira Cearense, com seu primeiro número circulando a 7 de janeiro de 1872. Fascículos depois reunidos em um volume, dividido em três partes: Lira Popular, Lira Americana e Lira Íntima.
Foi nomeado em 19 de maio de 1876 terceiro suplente do Juiz Municipal de Pacatuba. Naquele ano casou-se com sua vizinha Dona Maria do Carmo Cabral , filha do Comendador Cabral de Melo. Depois de alguns anos, Juvenal e sua esposa querendo proporcionar uma melhor educação para os três filhos: José, Antônio e Maria do Carmo, deixam o sítio e vão morar num sobrado da Vila de Pacatuba. Até 1886, o seu domicílio seria a Vila de Pacatuba, em cujas ruas mantinha um estabelecimento de lojista. Em 1887 fixa residência em Fortaleza, na Rua General Sampaio 1128, ali nascendo João, Henriqueta e Júlia.
Em 1887 quando da fundação a 4 de março do Instituto do Ceará, foi considerado Sócio Fundador daquela entidade. Dois anos depois, em 1889 foi nomeado pelo presidente da Província de Fortaleza, Caio Prado, para a função de Diretor da Biblioteca Pública, então localizada na Rua Sena Madureira, cargo que ocupou por longos dezenove anos. Nesta função divertia-se em policiar a leitura dos estudantes tirando-lhes das mãos as obras de Júlio Verne substituindo-as pela História de um Bocadinho de Pão. Juvenal Galeno costumava dizer, amava aquela repartição como se fosse um de seus próprios filhos.
O Conde D”Eu quando por aqui passou antes da inauguração do regime republicano, comparecendo à recepção que lhe foi oferecida, em palácio, pelo presidente da Província, foi apresentado ao nosso poeta. E para espanto da altas figuras ali presentes, o genro do imperador em voz alta, recitou, naturalmente querendo dar provas de que já conhecia muitas de suas poesias, algumas estrofes de “O Filho do Vaqueiro”.
Juvenal por algum tempo escreveu no Jornal “A CONSTITUIÇÃO”, um dos mais lidos no século XIX, em Fortaleza. Suas crônicas eram verdadeiras caricaturas dos costumes então em uso, e assim, ora em versos tersos e vibrantes, ora em prosa causticante, ele combatia a torto e direito os vícios e abusos daquela época.
Acastelhava-se por identificar o autor, e “A CONSTITUIÇÃO” aumentava a tiragem, esgotando-se, tal era a procura.
O poeta mostrou-se, nesse gênero, de uma verve admirável, e ora enérgico e destemido, ora trocista e brincalhão, ia fazendo cócegas e irritando aqueles em cuja cabeça a carapuça tão bem se ajustava. SILVANUS, com sua verve inesgotável, marcou um acontecimento no mundo social, e ele soube se haver com tal inteligência e habilidade, que não feriu diretamente a este ou aquele. E o sucesso foi tamanho que, quando o poeta deu por finda a sua publicidade, recebeu pedidos insistentes para enfeixar em livros aquelas produções. A princípio não quis fazê-lo, mas acabou cedendo, e eis, erecto e altivo o “FOLHETINS DE SILVANUS”, editado e descoberto em 1891 para gáudio de seus numerosos leitores.
“Folhetins de Silvanus” é uma fina sátira dos costumes, hábitos, fielmente observados e descritos com um humorismo encantador.
A maior parte do livro foi escrita em verso, em que estigmatizava o luxo, o pedantismo provinciano, a falsa ciência dos diletantes, em plena Fortaleza do século XIX.
Aos setenta e três anos de idade, atacado de glaucoma, aposentou-se do serviço público, já irremediavelmente cego, isso em 1908, passando a viver da aposentadoria, dos rendimentos próprios auferidos não só da produção de seu sítio como dos aluguéis de suas vinte casas.
Em 1897, Juvenal Galeno dita à sua filha Henriqueta os seus versos de “Medicina Caseira”, livro somente impresso em 1969, no cinquentenário de fundação da Casa de Juvenal Galeno.
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